Debate no FIM20 destaca ações contra o assédio no audiovisual e na sociedade; assista
O combate ao assédio no audiovisual e na sociedade foi tema de um debate online realizado nesta quinta-feira (12) pelo FIM20 em parceria com a Diageo e o Instituto Diageo. Mediada por Ana Paula Souza, a conversa abordou ações e movimentos criados nos últimos anos, os desafios que seguem impostos e como o fim do assédio passa pela criação de ambientes de trabalho mais igualitários e por ações que envolvam todos os profissionais de cada setor.
Para traçar paralelos entre o combate ao assédio no cinema e na sociedade de forma geral, o painel reuniu três convidadas: Marianna Souza, presidente executiva da Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (APRO); Amanda Kamanchek, cineasta e gerente de inovação e impacto na ONG feminista Think Olga; e Daniela De Fiori, diretora de Relações Corporativas da Diageo e Presidente do Conselho do Instituto Diageo. Dos sets de filmagem aos bares e restaurantes, nos últimos anos o assédio se consolidou como pauta urgente, num movimento que também foi fortalecido por casos de grande repercussão - como as acusações contra o produtor americano Harvey Weinstein e o ator brasileiro José Mayer.
Foi o caso de Mayer, revelado em 2017, que levou a APRO a promover uma pesquisa com 1,4 mil profissionais do audiovisual, na qual 90% das mulheres e 76% dos homens entrevistados disseram já ter sofrido assédio sexual ou moral. O levantamento também mostrou que havia grande desinformação sobre o tema. “Sentimos que era necessário um material didático para que as empresas tivessem consciência de sua responsabilidade e para que as vítimas soubessem o que fazer”, afirmou Marianna, se referindo ao Pacto de Responsabilidade Antiassédio no Audiovisual, cartilha lançada em 2018 que se desdobrou no movimento Corta!.
Daniela de Fiori falou sobre a movimentação do setor corporativo e comemorou o fato de, hoje, ser raro encontrar uma empresa multinacional que não ofereça canal de denúncia para as vítimas. No entanto, ela destacou a necessidade de um olhar “360 graus” quando o assunto é assédio. “Talvez o olhar mais evidente seja para aquilo que acontece dentro da sua organização, com os seus funcionários. Mas é preciso olhar toda a cadeia de valor: propaganda, fornecedores, revendedores - tudo o que acontece para trás e para frente.”
Amanda concordou, e deu como exemplo uma cartilha de combate ao assédio em eventos que a Think Olga desenvolveu em parceria com a Associação Brasileira de Anunciantes (ABA). “É fundamental que tenhamos ouvidorias e campanhas recorrentes para falar com fornecedores, bartenders, promoters, pessoas que trabalham na veiculação...o setor de eventos tem uma rede imensa de pessoas que são responsáveis pela cultura que estão criando”, explicou.
A cartilha da ABA serviu de base para o Manifesto Bar Responsável, ação lançada pela Diageo no contexto da pandemia. Assinado por 600 bares até agora, o manifesto convida o setor a não apenas aplicar os protocolos de higiene e distanciamento social mas, também, incentivar a diversidade, promover a inclusão e combater o assédio em todas as formas.
“Chega de Fiu Fiu”
O debate foi alinhado à sessão no FIM20 do documentário “Chega de Fiu Fiu” (2018), dirigido por Amanda em parceria com Fernanda Frazão, e também selecionado para a primeira edição do festival. Ao acompanhar o dia a dia de três moradoras de Brasília (DF), Salvador (BA) e São Paulo (SP), o filme mostra como características das próprias cidades brasileiras - de iluminação precária a dificuldades de mobilidade - funcionam como entraves para a segurança das mulheres.
Durante o debate, Amanda comentou que o filme serviu como importante ferramenta de diálogo, sendo exibido em mais de 3 mil municípios e em espaços tão diferentes quando igrejas evangélicas, empresas e grupos de trabalho sobre masculinidades. “Eu mesma consegui dialogar melhor com meu avô através do filme do que numa conversa do dia a dia”, contou a diretora. Ela também comemorou avanços como a lei de 2018 que tipificou os crimes de importunação sexual, mas citou casos recentes, como o da influenciadora Mari Ferrer, para dizer que os desafios permanecem.
Marianna destacou que o combate ao assédio está intimamente ligado à luta por igualdade de oportunidades e direitos entre homens e mulheres. “Talvez tenhamos tantos casos de assédio no audiovisual porque as equipes são majoritariamente compostas por homens”, afirmou. Daniela concordou: “Quando o ambiente é seguro, tudo funciona muito melhor: as pessoas podem trabalhar no que querem sem ter medo - seja no cinema nos bares ou nos eventos.”
Assista ao debate completo no YouTube do FIM.