Mostra Lute Como Uma Mulher propõe reflexão sobre o que está em jogo nas eleições municipais
Às vésperas das eleições municipais, marcadas para este domingo (15), espectadores de todo o Brasil podem aproveitar o FIM20 para refletir sobre o papel determinante das mulheres na luta por um país mais justo e igualitário.
Criada na primeira edição do FIM, em 2018, a mostra Lute Como uma Mulher desta vez reúne três documentários brasileiros: “Eleições”, de Alice Riff; “Espero Tua (Re)Volta”, de Eliza Capai; e “Sementes - Mulheres Pretas no Poder”, de Éthel Oliveira e Júlia Mariano. Juntos, os filmes debatem várias das questões em jogo na votação de domingo: da educação pública de qualidade à igualdade racial, da valorização do processo democrático à representatividade negra e feminina no poder.
À primeira vista, a proposta de “Eleições” pode parecer inusitada: afinal, pouca gente diria que a disputa para o grêmio estudantil de um colégio paulistano “daria um filme”. Mas o olhar atento da diretora Alice Riff percebeu que a Escola Estadual Doutor Alarico Silveira era um "pequeno Brasil", e que os assuntos discutidos ali – racismo, machismo, homofobia, desigualdade social, religião – tomavam conta, também, das eleições presidenciais e legislativas de 2018.
Esta outra eleição está no centro de “Sementes - Mulheres Pretas no Poder”, que acompanha seis das 4.398 mulheres negras que se candidataram a cargos legislativos em 2018. O olhar atento, aqui, foi das realizadoras Éthel Oliveira e Júlia Mariano, que rapidamente se organizaram para registrar um movimento que ganhava força: as mulheres retratadas em “Sementes" concorriam por partidos de esquerda, viviam no Rio de Janeiro e se sentiam conectadas ao legado da vereadora Marielle Franco (1979-2018), morta meses antes da votação. “Estávamos registrando um momento dramático da democracia brasileira pela perspectiva das mulheres pretas”, afirmou Éthel, em entrevista ao site Mulher no Cinema. “Isso era algo inédito. A imagem do fazer político do povo preto não existe, e era esse o papo que a gente tinha com a equipe."
Esta equipe, aliás, foi majoritariamente formada por mulheres e teve paridade entre profissionais brancas e negras, ecoando a luta por representatividade que ocorre também no audiovisual. “O `Sementes` parte de perspectivas que não foram ouvidas antes", afirmou Júlia, na mesma entrevista. "Isso só é possível porque nossas personagens estão abrindo caminhos e porque as pessoas que fazendo esse filme estavam vindo de outros lugares.”
Já no caso de “Espero Tua (Re)Volta”, um retrato das ocupações nas escolas públicas de São Paulo em 2015, a sacada da diretora Eliza Capai foi colaborar de perto com os jovens que decidiu filmar. Depois de dezenas de entrevistas, ela trabalhou no roteiro com três estudantes (Lucas Penteado, Marcela Jesus, Nayara Souza), encarregados também da narração. O resultado é um filme ágil e jovem que faz, até no título, o chamado à ação que reverbera pela mostra Lute Como uma Mulher. Com registros de debates e momentos históricos que seguem em curso, estes documentários perguntam ao espectador: o que você vai fazer?