Homenagens e Tributos no FIM20
A atriz, diretora, roteirista e escritora Grace Passô é a grande homenageada do FIM20. Aos 40 anos, a mineira radicada em São Paulo coleciona prêmios, não somente no teatro, onde começou sua carreira polivalente, como também no cinema, representando a força da mulher negra e o futuro das artes no Brasil.
Suas múltiplas expressões poderão ser vistas nas obras selecionadas para o Festival. O média-metragem Vaga Carne, no qual atua e dirige – em parceria com Ricardo Alves Jr. –, é uma adaptação do monólogo escrito, dirigido e interpretado por ela nos palcos, encarnando diversas vozes que “se apossam” de seu corpo e colocam em xeque os preconceitos identitários de nossa sociedade. Prêmio Shell RJ e Cesgranrio de Melhor Texto em 2016, teve sua versão cinematográfica lançada diretamente em streaming em maio deste ano.
Vaga Carne integra a mostra de filmes da artista, junto com o curta inédito República (2020), criado, dirigido e interpretado por ela em sua própria casa, durante a pandemia da Covid-19, e o curta Sem Asas (2019), de Renata Martins. “Estou muito feliz com a homenagem do FIM. Poder comemorar com outras pessoas, ver coisas que fiz reunidas, me dá mais fôlego para criar e, portanto, para viver. E a alegria nunca foi tão importante quanto nesse momento”, declara Passô. Ela participará ainda de uma mesa-redonda a respeito dos movimentos das mulheres negras nas artes e no cinema no Brasil, com mediação de Janaína Oliveira.
A diretora francesa Claire Denis também ganha destaque na programação. Nascida em Paris, criada em Camarões e com familiares brasileiros, é uma cineasta fundamental para o cenário da sétima arte nos últimos 30 anos. “Seus filmes expressam um desejo verdadeiro de conhecer as pessoas, com narrativas sobre a intimidade, sexualidade e o não-pertencimento”, explica Beth Sá Freire, curadora do FIM.
Começou como assistente de diretores como Jacques Rivette, Costa-Gavras e Wim Wenders até trilhar sua própria carreira, que conta com 14 longas-metragens. A 2ª edição do Festival faz um tributo a essa trajetória, exibindo duas de suas grandes obras: Deixe a Luz do Sol Entrar (2017), comédia romântica em que Juliette Binoche vive uma mulher em busca de realização no amor e na vida; e 35 Doses de Rum (2008), a história de pai e filha que vivem uma relação quase fechada ao mundo desde que perderam a esposa e mãe, com Alex Descas no elenco, ator que trabalhou em onze de seus filmes.
O FIM20 apresenta uma masterclass de Claire Denis, mediada pelo educador e especialista Robert Milazzo da Modern School of Film de Nova York e produzida especialmente para o Festival. Diretamente de sua casa, a cineasta fala de seu cotidiano, dos desafios humanos e sociais trazidos pela pandemia da Covid-19, de sua infância em Camarões e das suas origens brasileiras, com ascendentes do estado do Pará. Envereda ainda pela sua obra, destacando a relação com atores, o financiamento de suas produções, as escolhas de temas e curiosidades sobre seus filmes memoráveis.
A 2ª edição do evento celebra ainda o centenário de nascimento da escritora ucraniana, naturalizada brasileira, Clarice Lispector (1920 – 1977). Dois filmes baseados em sua obra e realizados por cineastas mulheres foram escolhidos para abrir e fechar o Festival: o premiado A Hora da Estrela (Brasil, 1985), de Suzana Amaral, e o inédito O Livro dos Prazeres (Brasil| Argentina, 2020), de Marcela Lordy, respectivamente.
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